Memórias da Formação nos Primórdios da Escola do Magistério Primário de Faro. 1945-54
Excertos de Memórias da Formação nos Primórdios da Escola do Magistério Primário
de Faro. 1945-54
De Aurízia Anica in
https://sapientia.ualg.pt/bitstream/10400.1/4548/1/PDF%20Mem%C3%B3rias%20da%20Forma%C3%A7%C3%A3o%20nos%20Prim%C3%B3rdios%20da%20EMPF3.pdf
O jornal Povo Algarvio publicou, a 8 de Julho de 1945, a
informação de que os candidatos ao primeiro curso da Escola do Magistério
Primário de Faro deveriam requerer exame de admissão e que o mesmo
realizar-se-ia a partir do dia 1 de Setembro desse ano. Tratava-se de um exame
de Português, Matemática e Geografia-História composto por provas escritas e
orais, no qual para obter aprovação deveriam os candidatos obter no mínimo dez
valores em cada uma das disciplinas. Os requerimentos deveriam ser acompanhados
por … comprovativo de habilitação mínima do 2º ciclo do liceu ou equivalente, …
e, ainda, declaração de que se encontrava integrado na ordem social
estabelecida pela Constituição de 1933, com “activo repúdio do comunismo e de
todas as ideias subversivas.
A abertura da Escola do Magistério Primário de Faro
enquadra-se na conjuntura de política educativa do Estado Novo, que Nóvoa
(1992) designou por «construção nacionalista do professor primário», … Na verdade,
o «Plano dos Centenários» e as Escolas do Magistério Primário articulavam-se com
vista a reduzir a elevada taxa de analfabetismo do país e a educar um povo que
se queria humilde mas preparado para os desafios do desenvolvimento económico
do pós-guerra.
Depois de criadas as Escolas do Magistério Primário de
Lisboa, Porto, Coimbra e Braga, foi anunciada a abertura, em 1945, de mais
cinco escolas: as de Faro, Viseu, Évora, Guarda e Bragança. Seguidamente surgiu
a de Vila Real.
A cobertura do território nacional com escolas de formação
de professores para o ensino primário era urgente dada a falta de docentes
resultante do ritmo das aposentações e do afastamento da atividade de muitos
professores, a que se juntava a necessidade de alargamento da rede escolar, uma
vez que a taxa de analfabetismo rondava, então, os 50%. Para responder a esta
situação, o «Plano dos Centenários» previa a abertura de 12500 salas de aula em
cerca de dez anos, para as quais era necessário formar um corpo docente em moldes
adequados às exigências do momento.
As raízes do problema
remontavam pelo menos à suspensão do funcionamento das Escolas do Magistério
Primário decretada em 1936 (*11), à sua substituição pelo recrutamento de
emergência que dava à formação inicial um reduzido lugar (*12) e à mobilização
de regentes escolares que pouco mais tinham que provar do que o saber ler,
escrever e contar (NÓVOA, 1992: 505).
O curso das Escolas do Magistério Primário, criado pelo
Decreto nº 18646, de 19 de Julho de 1930, tivera por objetivo reduzir o
processo de formação apenas aos «elementos considerados essenciais para a
cultura profissional» (SAMPAIO, 1975: II,157) e é exemplificativo do carácter
pragmático das políticas de formação de professores no Estado Novo
A redução do processo formativo traduziu-se no encurtamento
do período de formação inicial de professores do ensino primário, cujo curso
perfazia três anos em 1932 (*13), sendo o último dedicado a «conferências»,
enquanto o curso de 1942 (*14) não ia além dos dois anos, organizados em quatro
semestres, sendo o último semestre ocupado pelo estágio orientado por um
professor que trabalhava em estreita colaboração com o estagiário
A redução do período de formação dos professores do Ensino
Primário estava igualmente relacionada com a alteração dos requisitos exigidos
aos candidatos, os quais passaram a ser mais restritivos: em 1930, permitia-se
a entrada a candidatos com mais de dezasseis anos de idade, desde que
obtivessem aproveitamento no exame de admissão à Escola do Magistério Primário,
mesmo que não tivessem completado o 2º ciclo dos liceus, sendo dispensados do
exame de admissão os candidatos que comprovassem ter concluído o 2º ciclo
liceal (*15); em 1942, só os candidatos que tivessem concluído o 2º ciclo dos
liceus e que, cumulativamente tivessem êxito no exame de admissão poderiam ser
admitidos nas mesmas Escolas (*14).
Embora a habilitação mínima necessária para o acesso à
Escola do Magistério Primário fosse o Curso Geral dos Liceus, a média da idade
dos candidatos situava-se bastante acima da idade mínima com que os jovens
podiam terminar este ciclo de estudos e era diferente consoante se considera os
candidatos femininos ou masculinos.
No caso das raparigas, verifica-se que a idade das mais
jovens no momento da candidatura é de quinze anos, enquanto a das mais velhas
atinge os vinte e oito anos, sendo a média etária de 19 anos. Este valor sobe
para os 20,3 anos, quando se considera os candidatos do sexo masculino …
De facto … o número mais elevado de candidatos admitidos que
possuíam o diploma do curso complementar dos liceus (CCL) ocorreu no primeiro ano
de funcionamento da Escola (26,5%), tendo começado a baixar no ano seguinte, antes
ainda de ter diminuído a idade média dos admitidos. A atratividade da escola fazia-se,
pois, sentir mesmo entre aqueles que tinham atingido um nível de habilitações superior
ao mínimo exigido para nela ingressar. Para além desta procura, que se vai restringindo,
deve assinalar-se a captação de novos públicos a partir do início da década de
50, quando surgem como candidatos jovens que haviam iniciado ou mesmo completado
cursos de contabilidade do Instituto Comercial (CContab) ou que tinham completado
a secção preparatória do Instituto Comercial (SPIC).
O arquivo da Escola do Magistério Primário de Faro
(1945-1987), recentemente integrado e inventariado como fundo do arquivo da
Universidade do Algarve, encontra-se ainda em grande parte por desbravar.
(*11) Pelo Decreto-lei 27.279 de 24 de Novembro de 1936.
(*12) Sobre os regentes ver Portaria nº 8731 de 04.07.1937.
Sobre o recrutamento de emergência realizado em 1940 ver o Decreto-lei nº
30.951.
(*13) Decreto nº 21695 de 19 de Setembro de 1932.
(*14) Decreto nº 32243 de 5 de Setembro de 1942.
(*15) Decreto nº 18646 de 19 de Julho de 1930.
1945-47, Primeiro curso da Escola do Magistério Primário de
Faro.
1946-48, Segundo curso da EMPF.
1947-49, Terceiro curso da EMPF.
1948-50, Quarto curso da EMPF.
1949-51, Quinto curso da EMPF.
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